O Começo
O COMEÇO DE TUDO
Desde pequeno que a minha paixão por futebol e pelo Flamengo era uma coisa anormal. Aliás, anormal não, porque anormal é não ser rubro-negro. A pessoa que não é flamenguista não pode ter equilíbrio emocional, já que tamanha frustração faz a vida infeliz para sempre. É comum se encontrar gente bem sucedida, com tudo o que sempre pediu a Deus, e que, no entanto, não consegue ser feliz. Quando você tenta ajudar, tenta descobrir a causa da infelicidade, ouve sempre o desabafo:
- Sou brasileiro, adoro futebol, mas, por castigo de Deus, não sou flamenguista.
O sofredor segue o seu destino, ciente de que o sofrimento vai acompanhá-lo até o Juízo Final. A nós, nada resta senão fazer uma prece em segredo, agradecendo ao Torcedor Supremo a graça de ser Flamengo.
Por sinal, foram dois tricolores (logo, frustrados), gente da melhor espécie, quem melhor descreveram a sensação de plenitude de ser Flamengo. Os nossos Nelson Rodrigues e Arthur da Távola escreveram os seguintes textos:
Há de chegar talvez o dia em que o Flamengo não precisará de jogadores, nem de técnico, nem de nada. Bastará a camisa, aberta no arco. E, diante do furor impotente do adversário, a camisa rubro-negra será uma bastilha inexpugnável.
Nelson Rodrigues.
SER FLAMENGO É TER ALMA DE HEROI
Ser Flamengo é ser inteiro e forte na capacidade de querer. É ter certezas, vontade, garra e disposição. É paixão com alegria, alma com fome de gol e vontade com definição.
É ser forte como o que é rubro e negro como o que é total. Forte e total, crescer em luta, peleja, ânimo e decisão.
Ser Flamengo é deixar a tristeza para depois da batalha e nela entrar por inteiro, alma de herói, cabeça de gênio militar e coração incendiado de guerreiro. É pronunciar com emoção as palavras flama, gana, garra, sou mais eu, ardor, vou, vida, sangue, seiva, agora, encarar, no peito, fé, vontade, insolação.
Ser Flamengo é morder com vigor o pão da melhor paixão; é respirar fundo e não temer é ter coração em compasso de multidão.
Ser Flamengo é ousar, é contrariar norma é enfrentar todas as formas de poder com arte, criatividade e malevolência. É saber o momento da contramão, de pular o muro, de driblar o otário e ser forte por ficar do lado do mais fraco. É poder tanto quanto querer. É querer tanto como saber é enfrentar trovões ou hinos de amor com o olhar firme da convicção.
Ser Flamengo é enganar o guarda, é roubar o beijo, é bailar sempre para distrair o poder e dobrar a injustiça. É ir em frente onde os outros param, é derrubar barreiras onde os prudentes medram, é jamais se arrepender, exceto do que não faz. É comungar a humildade com o rei interno de cada um.
É crer, é ser, é vibrar. É vencer. É correr para; jamais correr de. É seiva, é salva, é vastidão. É frente, é fraco, é forte, é furacão.
É flor que quebra o muro, mão que faz o trabalho, povo que faz país.
Arthur da Távola.