Copa de 98 - França
COPA DO MUNDO DE 98 - FRANÇA
Estava chegando a Copa da França em 98. A galera me zoando e eu irredutível. Se eu não fosse, eles teriam problemas com os ingressos. Estava com pena da galera e, ao mesmo tempo pensando, porra Moraes é na França... Paris... No fundo, não me via assistindo aos jogos pela TV. Só havia um empecilho: embora eu tenha o maior respeito pelo currículo do Zagalo, por tudo que ele fez e representa para o futebol brasileiro, não gosto do estilo dele. O futebol dos times dirigidos pelo Zagalo é irritante. A tática dele é, primeiro, não perder; ganhar, se possível; e empatar tá muito bom!!! Francamente, a retranca do Zagalo não faz a minha cabeça.
E a galera me pentelhando...O Paizão Ernesto me ligando sempre. O Hélio Moraes, Munir, Mauro, todo mundo. Eu na minha. Estou decidindo...Estou pensando... Não dava pra perder...De repente, pintou a motivação que faltava. O Zico foi designado Coordenador Técnico da Seleção. Aí, não dava para recusar. Aonde o Galo vai, eu vou atrás.
O Zé Carlos estava morando nos Estados Unidos e, como sempre, em cima do muro. Em março o Paizão Ernesto e a Mãezona Helena foram para a Galícia (Espanha), onde eles têm casa (o velhinho num é pouca coisa não...). Por falar em Paizão, vou contar uma história hilária. Quando publiquei a revista, em 1996, com toda essa saga acima, não sei como um “espírito de porco” deu para a Mãezona um exemplar (a ordem era esconder dela até à morte). Pois bem: ela leu todas as sacanagens do velhote. Ficou muito puta. Um Deus nos acuda! Eles quase se separaram, após 40 anos de casados. Inventamos que era para vender revista e o diabo. Foi uma merda. Mas o Paizão, como sempre, se safou. Ufa! Ufa! Aí, veio o tiro de misericórdia. Ela só o deixaria ir à Copa da França se também fosse...Acabou com o velho... Foi hilário. Em Paris, o Paizão parecia um adolescente de 15 anos e estudante do Colégio Sacre-Coeur de Marie...Um doce...pianinho. Levava a Mãezona, todos os dias, para jantar nos melhores restaurantes, visitava museus, um lorde. E nós morrendo de rir, sacaneando o cara...De vez em quando, ele chegava para mim e dizia:
- Neguinho, num dá... Tanta mulher boa! Eu, em Paris, e namorando depois de 40 anos de casado! Num dá...Vou embora...
- Calma, Paizão... Calma. Na próxima tu vai à forra...
- Quando? No Japão? Só tem japonesa feia. Eu vou é embora. Vim para festa e não vou comer...Tô fora...
Ainda no Brasil eu convidei o Marquinhos para ir com a gente. O moleque trabalhava comigo e era super esperto. O cara estava animado, mas tinha um problema. Namorada nova e completamente apaixonado. O dilema: se fosse, perdia a mulher; se não fosse, ia ficar frustrado. Uns dez dias antes da Copa, decidiu ir. Compramos as passagens e deixamos tudo pronto para o embarque.
Na véspera da viagem a namorada do cara “chegou junto”:
- Se for, tá tudo terminado... - e ele desistiu de ir à Copa do Mundo por causa da mulher. Veja só que babaca... (até hoje está arrependido!!!).
Com o Zico coordenador e a Seleção Brasileira com um timaço que tinha Tafarel, Rivaldo, Roberto Carlos, meu Capitão Dunga, Bebeto, Romário e Edmundo, eu não via como perder a Copa. Estava confiante mesmo. Às vésperas da minha viagem aconteceu o primeiro problema. O Romário foi cortado por causa de uma contusão na panturrilha. Assisti à entrevista dele na TV, em que sentava o pau no Zico. Pô, falar mal do Galo é comprar briga comigo. O Romário jogava no Flamengo, era meu ídolo, mas não dá. O Galo jamais iria prejudicar alguém. Se ele foi cortado é porque não tinha condições físicas mesmo. Tanto assim que, voltando ao Brasil, dizendo que ia se recuperar a tempo e um monte de babaquice, jogou uma partida pelo Flamengo e sentiu de novo a contusão. Ficou 40 dias parado.
A cinco dias da abertura da Copa fui para Paris com o Hélio Moraes. Encontrei lá o Paizão, Mãezona e quatro amigas. Dois dias depois me apareceu o Marcelo Cebreiro com três amigos: um advogado picão e dois procuradores. O meu grupo estava ficando “chique”. Depois chegaram Mauro Noronha, o Munir e o Felipe Wrigth (filho do José Roberto Wrigth). Se juntaram ao grupo o Fred e mais quatro amigos. Total: 20 amigos diretos e agregados. Já viu, né? Uma encrenca para arranjar ingresso pra galera. Ficamos em Paris e a Seleção Brasileira concentrada numa cidade chamada Ozoir-La-Ferrie, a 2 horas de trem.
Devia ter, aproximadamente, uns 10 mil brasileiros em Paris, entre residentes na Europa e os que foram especialmente para ver a Copa. Festa total. A cidade estava bem “abrasileirada”. Afinal...Paris é Paris. Tudo a ver. Comer bem, uma vida cultural fantástica. Tudo o que se podia imaginar numa Copa do Mundo estava ali. E com um pequeno detalhe...Tinha futebol!
O Zico ficou de me arranjar os ingressos a preço de tabela. Todos os dias íamos aos treinos num trenzinho “cata corno”, tipo Central do Brasil x Japeri (guardadas as devidas proporções, pô!). Detalhe: mais de 100 brasileiros no trem e ninguém pagava o bilhete, por “puro esquecimento...”. Foi assim durante uns 20 dias, até que a Polícia Francesa deu uma dura...O que teve de negozinho pagando mico e... Multa... A partir daí todo mundo teve de se coçar...Acabou a mordomia...
No último dia de treino para o jogo de abertura eu tinha que falar com o Zico sobre os ingressos. Outra encrenca. Mandei mil recados e nada... Até que o apareceu meu amigo Galvão Bueno e levou e entregou, pessoalmente, um bilhete para ele. Na hora do treino eu fiquei encostado no alambrado, esperando o Galo me ver e vir falar comigo. Um milhão de pessoas... Era quase impossível. Aí, apareceu um “ aspone” da CBF e eu falei assim:
- Cara, sou amigo do Zico e estou esperando ele vir falar comigo, assim que terminar o treino. Posso ficar por aqui???
O cara me olhou e respondeu com o maior desprezo.
- Ah!Ah! Eu ouço isso o dia inteiro. Todo mundo é amigo de alguém... Se tu fosse amigo do Zico, tu tava lá do outro lado (onde ficavam os jornalistas e vips). Vai pra arquibancada ou zarpa fora...
Caraca! Me deu uma raiva, mas fiquei na minha. Estava precisando... De longe eu olhava o Galo e minha esperança era de que ele também me visse (estava identificado com a camisa do Mengão. Aliás, esta é a condição primordial para a galera que vai comigo. Sem camisa do Flamengo, nada feito). Toda vez que ele olhava pra galera, eu levantava as duas mãos, como se estivesse fazendo “polichinelo”, para chamar sua atenção. Nada... Depois de dois milhões de “polichinelos ”, acho que ele sacou. Quando terminou o treino, lá por volta das 8h da noite, o Zico, depois de dar trezentas mil entrevistas para os jornais e televisões, atravessou todo o campo e veio falar comigo...Que moral ele me deu. Imagina só! A imprensa toda atrás do cara. A galera na arquibancada se levantando e correndo em sua direção, e ele veio diretamente falar comigo...
Chegou perto, me apontou e falou para o “aspone”:
- Deixa ele entrar. Quero falar com ele.
O babaca ficou verde... Entrei, ficamos conversando uns dois minutos e combinamos que eu pegaria os ingressos com a Sandra (mulher dele), no Hotel George IV, onde estavam os VIPS. Perguntou quantos eu queria. Eu disse:
- Galo, tem 20 pessoas comigo. Vê o que tu pode fazer.
- Moraes, 20 impossível, mas talvez eu consiga 12, tá bom?!
- Porra, genial. Já ajuda e muito. O resto eu me viro.
Primeiro jogo: Brasil x Escócia. Abertura da Copa do Mundo. Para conseguir ingressos pro restante da galera foi um sufoco. O Hélio Moraes conseguiu alguns com o Américo Farias. Vale uma explicação: os ingressos não são grátis. São pagos em dólar, pelo preço de face. Nada é de graça, ok? É apenas uma gentileza dos amigos, porque comprar na mão de cambista... Imagine quanto não estava custando uma entrada para a abertura de uma Copa do Mundo...Papo de US$2,000.00!
Ganhamos de 2x1, mas o time não empolgou. Sei lá, faltava alguma coisa. A jogada era a mesma de trezentos anos atrás. Os dois laterais avançavam e o Rivaldo tendo que armar o jogo (coisa que ele não sabe). O Rivaldo é meio-atacante. Ele tem que ficar perto do gol, pois bate muito bem na bola. Agora, querer que ele arme as jogadas... Não dá... Além de lento, não tem inteligência pra isso. Se a jogada dos laterais fosse marcada, acabava o jogo. O diferencial é a qualidade técnica dos nossos jogadores.
Uma coisa que me matava de raiva era ver a paulistada torcer pelo Denilson. Porra, com 5 minutos de jogo eles já estavam gritando o nome do cara e pedindo para tirar o Bebeto que, na minha opinião, foi um dos melhores jogadores do time, em toda a Copa. Me estressei várias vezes por causa disso. Caramba, o cara sai do Brasil para assistir a uma Copa do Mundo na França e vai vaiar jogador por puro bairrismo, clubismo e o caralho? Fica em casa, porra! Pra que gastar dinheiro??? Quem segurava a barra era o Dunga, nosso General. Era o gerente do time, com moral para dar esporro em todo mundo. Com ele, neguinho não relaxava...
O jogo seguinte foi contra o Marrocos, em Nantes. Jogo fácil. Ganhamos de 3x0. Novamente não me empolguei, mesmo com o “oba, oba”. Mas continuava achando que a Copa era nossa. Não havia time papão. Ninguém levava fé na França, dona da casa, e só havia dois times bons: Holanda e Argentina. O comentário geral era de que um dos três seria o campeão. Na viagem para Nantes a galera se dispersou. O Paizão foi de carro, com a Mãezona e as amigas. Eu fui com os cinco mais chegados, de trem. O restante foi em horários diferentes. Fizemos uma armação genial. Compramos os bilhetes Paris x Nantes. Dentro do trem era um tal de negozinho se esconder dos caras que ticavam o bilhete. Quando eles vinham para o nosso vagão, a gente fugia para o outro. Depois de fugir dos “bilheteiros” durante toda a viagem, chegamos em Nantes com o bilhete intacto. Fomos à bilheteria e pedimos o dinheiro de volta. Pagamos uma pequena multa, recebemos a grana e, com ela, compramos o bilhete para voltar a Paris. Ou seja: a viagem saía praticamente de graça... Fizemos isso em todas as viagens seguintes. Uma teta. Até que, na última viagem, o Munir foi pego. Levou uma dura e pagou uma multa. Como “capitão do time”, decidi que dividiríamos o prejuízo. Fizemos uma vaquinha e rachamos o prejuízo do cara. Ele ficou sendo o “otário” do grupo. Pô, foi um único pego no crime...
E nada do Zé Carlos aparecer.
Em Nantes tivemos a primeira baixa. Depois do jogo, o Paizão me chamou num canto e disse:
- Neguinho, vou embora. Daqui sigo direto para a Espanha. Pôxa, não posso fazer nada. A dona “encrenca” não deixa. Copa do Mundo sem sacanagem não dá...
Tentei persuadi-lo para ver se desistia e nada... Estava irredutível. Ele pegou o carro e foi embora para a Galícia, com a Mãezona e as amigas. Combinei que, se o Brasil fosse à final, ele viria de avião assistir, no que concordou.
Voltamos a Paris, pois o próximo jogo seria em Marseille, contra a Noruega. Enquanto a galera se divertia, o “babaca” que lhes escreve passava o dia em Ozoir-La-Ferrie, atrás de ingressos. Um dia eu vou deixar de ser otário, podem apostar. Consegui os ingressos e fomos para Marseille. Viajar na França é legal, de graça então...Perdemos o jogo de 2x1, jogo em que ganhávamos de 1x0, até aos 38 minutos do segundo tempo. Já estávamos classificados pela combinação de resultados, mas uma vitória sempre é bom. O time estava mal, fez o gol sabe Deus como, mas nunca imaginei perder o jogo. Porra, faltavam menos de 10 minutos para acabar. Aí, duas lambanças...Dois gols, sendo um de pênalti, que todo mundo achava que tinha sido roubado e depois se viu, na TV, que realmente existiu. Uma das muitas lambanças do Júnior Baiano. Fiquei muito puto, mas, ao mesmo tempo, achei que aquela derrota ia mexer com os brios dos jogadores.
Nesse jogo, pela primeira vez, a galera quis matar o “Dartagnan”, o corneteiro. O cara é um grande amigo, boa gente, profissional de torcida e vive disso, mas não dá. Para futebol, aquilo não dá!!! Aquele tipo de incentivo que ele faz, tocando a corneta, é bom para vôlei, basquete, tênis etc., em que, em dois minutos, o time e/ou jogador podem virar o placar. Imagina, o Brasil perdendo o jogo de 2x1, aos 45 minutos do segundo tempo, e o cara, junto com o “Bola” e a galerinha dele, tocando aquela porra e cantando... “vamos virar... vamos virar...em cima, embaixo...embaixo em cima...” e outras macaquices... Não dá...Não dá, cara. Para futebol, não dá... O jogo estava acabando, o Brasil perdendo e o Fred me olhou e disse:
- Neguinho, ou tu manda este cara parar de tocar esta porra, ou vou lá enfiar esta corneta no rabo dele...
Para minha sorte, o jogo acabou e não precisei me estressar.
Em Marseille, duas historinhas hilárias: a primeira é que levamos uma dura da polícia francesa, eu, Munir e Hélio. Estávamos na praia, na maior zorra com os holandeses (geniais os caras. Depois dos brasileiros é o povo mais alegre do mundo) e, de repente, chegam os “home”. Caramba, pensei que fosse ser deportado... Dura mesmo. O Hélio, cagão, ficou branco (olha que o negão é mais preto que carvão...).
A segunda, no hotel. A dona era uma francesa, descendente de árabes, e o Munir é brasileiro, mas filho de sírios e morou em Damasco quinze anos. Os dois falavam árabe. A velhota devia ter uns 80 anos, mas com aparência de 175. Cheia de charme...
De sacanagem falei:
- Munir, canta esta velhota e consegue um descontão pra gente. Somos 14. Três quartos dão para a galera esticar as pernas.
O cara topou e chegou junto... Cantou a coroa em árabe e ela topou. Putz!!! O preço do hotel caiu 70%. Mordomia total, com café da manhã incluso. Mas o “preço” da cantada foi alto. O diabo da velha levou a coisa a sério. Queria grudar no Munir toda hora. Até beijar. Foi hilário o cara fugindo da “veia”. Eu nunca ri tanto na minha vida...
Voltamos para Paris. No trem de volta, no vagão restaurante só tinha brasileiro. Depois de muita discussão sobre o jogo, eu só ouvia: “mascarados, o time tá rebolando” etc. Então falei:
- Galera, acho que ganhamos a Copa aqui. Os jogadores vão ficar mordidos. Aprendemos a lição. Perdemos quando podíamos perder. Agora, vamos jogar sério e ganhar essa porra.
Metade concordou, mas os pessimistas achavam que seríamos eliminados em breve.
E nada do Zé Carlos.
Brasil e Chile em Paris. Eles vinham com moral por causa do Sallas e do Zamorano, dois grandes artilheiros. Como sempre, tive certeza que ganharíamos mole. Aí começaram os problemas com os ingressos. O Zico mandou recado que não podia me arranjar mais a mesma quantidade. É que estava chegando gente amiga dele. O Cláudio Adão veio para Paris com 350 pessoas e pediu ingressos justamente ao Galo. Minha cota caiu para a metade e eu com 15 pessoas para botar dentro do estádio. Mas, puxa daqui, arranja dali, consegui todos e fomos assistir ao jogo.
A galera só queria ficar longe do Dartagnan corneteiro. Antes do jogo, como sempre, dou uma volta no estádio (em todos os jogos das Copas eu faço isso. É para ver se tem algum amigo desesperado). Quem eu encontro? O Zé Carlos, paradão perto da entrada, do lado oposto onde eu estava. Fui logo pagando esporro:
- Porra, cara. Tu tá maluco. Custava me procurar?
- Procurar onde, velho esclerosado? Como é que eu ia te achar? Além disso,
acabei de chegar. Deixei as malas no hotel e vim correndo para cá. Sabia que tu ia dar a volta no estádio mesmo...
- Tu tem ingresso?
- Claro que não. Tem algum sobrando?
- Não, mas vamos arranjar na mão de cambista. Tu quer pagar até quanto?
- US$200.00. Nada mais que isso. Te vira...
Fiquei puto com o “te vira”, mas não ia deixar meu irmão fora do estádio. Falei para a galera:
- Vocês podem entrar, que vou arranjar ingresso para esse “mala”.
O preço normal do ingresso era US$150.00, mas, na mão dos cambistas, custava US$500.00. Pergunta daqui, chora dali e nada de ingresso barato. Falei:
- Zé, tu não quer pagar pelo menos US$300.00?
Pra quê? O cara me deu um esporro. Disse que eu sabia que ele ia, que ia chegar a qualquer momento, que eu tinha obrigação de guardar o ingresso dele etc. etc. E me pentelhou, pentelhou...Ele falando e eu correndo atrás dos cambistas, sem falar nada. E o jogo perto de começar...O pior é que o “mercado” dos cambistas era dominado pela máfia russa e por uns negões jamaicanos de assustar mesmo! Não era para dar moleza com eles, não. De repente, me aparece um casal de peruanos, que pareciam menos “brabos” e vendendo por um preço mais em conta:
- Quanto custa?
- 400 dólares.
Oferecemos duzentos e os caras nem quiseram saber. Mas, como estava escuro, e já quase na hora do jogo começar, resolvi apostar na ganância do ser humano e fazer uma pressão maior. Falei pro Zé:
- Me dá os duzentos.
- Para quê? Eles não vão topar isso.
- Me dá os duzentos porra, que eu tenho uma idéia.
Peguei quatro notas de cinqüenta dólares, coloquei as quatro bem juntinhas e falei para o cambista, no meu melhor portunhol:
- Toma, é pegar ou largar .
Meio atordoados pelas quatro notas e pela nossa pressão (cambista não está acostumado a ser pressionado), eles pegaram as notas e nos deram o ingresso. Por via das dúvidas, saímos correndo rumo à entrada: o Zé segurando o ingresso que nem um terço. E o imbecil nem se deu ao trabalho de conferir se era mesmo um ingresso para este jogo. Naquela pressa e escuridão, aquilo bem podia ser um pedaço de papel higiênico (um pouco mais grosso). Quando o vi conferindo o ingresso, já no portão, quase enfio a porrada nele ali mesmo.
A partir dali meu grande amigo se juntou ao grupo até o final da Copa. O interessante é que era ele no estádio e a mulher...No hotel. O desgraçado arrasta a mulher da Flórida até à França, mas é pão-duro demais para pagar ingresso pra ela. Nem para a final ele se coçou e deixou a coitada do lado de fora, assistindo ao jogo num telão, nas cercanias do estádio. A Cristina deve ser uma santa. Aturar o cara por todo esse tempo e ainda passar por esta. Mas, pelo menos, ela passou um bom tempo em Paris...
Quanto ao jogo...Não teve jogo...Uma pelada vip. Ganhamos de 4x2. Uma teta. O próximo era contra a Dinamarca, pelas oitavas de finais, em Nantes. Outro inferno para conseguir as entradas, mas deu tudo certo. Foi todo mundo de trem, que só tinha brasileiros, e os comissários nem pediram tickets.
Para mim, o melhor jogo da Copa. Ganhamos de 3x2. Eu respirei no início do jogo e só voltei a respirar no final... Quase morri. O batimento cardíaco foi para 2 milhões de batidas por segundo... Recorde mundial... Novamente, a galera queria matar o mala do Dartagnan. Porra, um sufoco do caralho e o cara fazendo palhaçada... “em cima, embaixo... embaixo em cima...e dançando... Se o jogo estivesse quatro a zero, tudo bem, mas...naquele sufoco...
Voltamos a Paris, esperando a próxima viagem para Marseille. Jogo seguinte: Brasil x Holanda. Uma final antecipada, segundo a imprensa. Lá fui eu para Ozoir-La-Ferrie procurar o Zico, atrás de ingresso. A Sandra, coitada, era quem distribuía os ingressos para a galera. Fui ao hotel e ela me disse:
- Moraes, o Zico mandou para você somente 4 ingressos.
- Faz isso comigo não, amiga. Eu vou me matar. Tenho 15 pessoas aí e o ingresso na mão de cambista está custando US$1,500. Pelo amor de Deus!
Ela, com uma pena danada, falou:
- Olha, o Zico me disse que você é especial. Não perturba, fica na tua, e, principalmente, paga os ingressos, diferentemente desses “malas” que estão aí. Sabe de uma coisa? Leva 6, pronto!
Ufa! Ufa! Agradeci, paguei e fui à luta para conseguir os outros 9. Sorte que o Hélio conseguiu 6 com o Américo Farias. Os três restantes conseguimos com outros amigos da CBF.
Semifinal de Copa do Mundo. Acabaram as brincadeiras. Todo mundo tenso. Quem nunca foi a uma Copa do Mundo não imagina como é. Você está fora de seu país, gastando dinheiro, longe da família, dos amigos, do trabalho. À medida que vai chegando a final, os nervos começam a “pipocar”. É uma tensão só, principalmente para quem, como eu e meu pessoal, vai assistir aos jogos; vai, de alguma forma, ajudar na conquista da vitória, do título. Vai torcer de verdade, contribuir, de uma forma ou de outra, com sua voz, incentivo, emoção e energias positivas, para o Brasil ser campeão. Estava completamente pilhado. Aí, veio um alerta do Munir, que somente eu levei a sério...
- Gente, tá todo mundo nessa história de que a Copa vai ser decidida nesta partida (contra a Holanda). Ninguém tá levando fé na França. Porra, eles são donos da casa, têm a torcida a favor e esse Zidanne, que joga bola...
O Mauro falou:
- Tu tá maluco. É um timeco. Ganhou do Paraguai sabe Deus como! Se a gente ganhar da Holanda, vamos meter 5x0... Aí é que me dei conta e falei:
- O Munir tem razão, galera. Nada de oba, oba... Já perdi muitos jogos por causa disso. Lembram da Copa de 82?
Fomos devidamente xingados. Só ouvi: cagão! Amarelão! Vai arranjar ingressos, otário...
Na ida para Marseille, pela primeira vez, nos sentimos uma minoria. O trem era um mar de laranja, dominado pelos Holandeses e suas camisas berrantes. Mas o ambiente no trem era sensacional e a conversa era sempre a mesma: quem ganhar essa, leva o título mole...
No estádio também éramos minoria e estávamos todos concentrados atrás do gol: milhares de brasileiros e dois solitários holandeses. Mas, em Copa do Mundo isso é normal e, a não ser por meia-dúzia de babacas, todas as torcidas do mundo se dão muito bem. Só que os dois holandeses estavam meio bêbados e resolveram cantar e gritar durante a execução do Hino Brasileiro. Brasileiro adora uma esculhambação, mas hino tocado em Copa do Mundo é sagrado, pô! Pedimos, “delicadamente”, para eles respeitarem o hino e eles, por via das dúvidas, foram assistir ao jogo em outro lugar.
O jogo, como todo Brasil e Holanda, foi duro e esse, especialmente, nervoso. O Brasil continuava não jogando bem, sem esquema, sem conjunto e dependendo, apenas, do talento de cada um de seus jogadores. Dessa vez quase não deu certo. Empatamos, graças ao talento do Ronaldinho, e vencemos, graças ao Tafarel que, positivamente, nasceu com a bunda pra a lua. Vai ter sorte em penalties assim na China!
Na saída do estádio, mais confraternização e festa. Vi muito neguinho já celebrando o “penta”, sem nem saber quem seria o adversário.
Dois dias mais tarde descobrimos: a França venceu a Croácia e se classificou. Assistimos ao jogo num telão, em Paris, com uns cem mil parisienses. No final do jogo ficou uma sensação meio chata – agora os nossos gentis anfitriões se transformaram em inimigos, e o barulho em Paris, naquela noite, foi um prenúncio do que poderia acontecer.
Novamente eu, numa final de Copa do Mundo. O “filme de 94” passou na minha mente. A alegria era imensa. Novamente, agradeci a Deus e a São Judas Tadeu. Agora era só esperar a final, ganhar e ir embora, PENTACAMPEÕES DO MUNDO, pensei.
E começou a chegar gente do Brasil para ver o jogo. E os ingressos... Bem, no câmbio negro, chegaram a custar US$5,000.00. Depois baixaram. Na hora do jogo vi negozinho comprando a US$3,000.00. Um dia antes da partida só tinha festa nos Champs-Élysées, repletos de gente de todas as partes do mundo! Porra. Era uma final de Copa do Mundo. BRASIL X FRANÇA. Imperdível!!! Poucos privilegiados teriam a chance de ver, ao vivo, esta emoção. Estávamos super confiantes e a galera só falava em 3x0. Até o Zé, normalmente comedido, falou:
- Neguinho, acho que vai ser moleza. Uns dois gols no primeiro tempo e um terceiro, pouco antes do fim, só para a festa começar mais cedo...
Eu ouvia tudo e continuava preocupado. Primeiro, pelo oba, oba. Segundo, quebrando a cabeça para saber como colocar a minha galera dentro do estádio. E tem mais: apareceram “mil amigos” do peito e todos sem ingressos me pedindo, pelo amor de Deus, para eu dar um jeito. Como??? Não deixei a peteca cair. Sempre tinha uma palavra de conforto e o pessoal confiava. No fundo, eles sabiam que haveria um jeito de ver o jogo...
A cidadezinha de Ozoir-La-Ferrie virou um inferno. Tinha mais brasileiro que francês. Resolvi delegar “tarefas” para a galera. O Marcelo Cebreiro tinha que localizar o Paizão na Galícia e “determinar” que ele viesse assistir à partida; o Munir e o Mauro, cercar alguns amigos vips na porta dos hotéis, atrás de ingressos. Impossível pagar o que os cambistas estavam cobrando. Eu e o Zé fomos atrás do Galo para ver a quantos teríamos direito.
E chegando gente...Chegou mais um super vip. O Thiago, filho mais novo do Zico. Pensei...Menos um ingresso... Tô fudido...A segurança dos franceses estava mais relaxada. Afinal, era o último dia na cidadezinha. Pudemos assistir aos treinos praticamente dentro do gramado e recebi o recado que o Galo queria falar comigo, no Castelo-Hotel, onde estava concentrada a delegação. Pensei: me estrepei... Para o “home” querer falar comigo pessoalmente, hoje, é porque a coisa tá feia...
Fui lá com o Mauro, que é meu “braço esquerdo” (o Zé é o direito). O Zico autorizou a nossa entrada. Lugar lindíssimo. Um castelo do século XVII. Ainda vou passar uns dias hospedado lá, é só aparecer uma chance. Um montão de gente. Imprensa, “beirinhas”, gente atrás de ingresso. Dois milhões de “convidados”. Uma festa. O Galo me falou:
- Moraes, tu tá vendo o sufoco que tá aí. Impossível conseguir 6 ingressos. Vou
te arranjar, no máximo, 3, tá bom???
- Pô, Galo, nem unzinho a mais?
- Não dá! Não dá, parceiro. Tu sabe que se fosse possível... Está chegando todo mundo aí. Tu sabe como são esses “malas”... Na hora de comer grama, vocês é que estão aí. Na boa, eles vêm, né?
- Ok, irmão. Sei disso. Pego agora?
- Não, pega com a Sandra, em Paris.
- Ok, irmão, e boa sorte. Vamos ganhar?
- Claro. A rapaziada “tá mordida. Todo mundo querendo jogo.”. Vamos ganhar.
- Deus te ouça. Deus te ouça...
Voltamos a Paris e fomos direto procurar a Sandra. Não dava pra “dar mole” com os ingressos. Já bem tarde da noite cheguei à portaria do hotel, me identifiquei e ela desceu, rapidinho.
- Moraes, o Zico já te falou, né? Desculpa, mas foi o que ele conseguiu.
- Eu sei Sandra. Eu sei...Fazer o quê? Vamos nessa. E você, confiante?
- Claro. Vamos ganhar, com fé em Deus!
Ela me entregou o envelope com meus ingressos. Nem abri. Paguei e fui embora para o meu hotel, meio desesperado, bolando como ia botar a galera pra dentro do estádio. Imaginem! Eram, a essa altura, 18 pessoas e eu com 3 ingressos!?
Cheguei ao hotel e fui conferir minhas entradas e...Havia um ingresso grudado no outro. Na hora de me entregar, a Sandra se confundiu... Ao invés de 3 eram 4... Já melhorou, e um detalhe importante: um ingresso da final da Copa do Mundo...De graça...(o Zico só vai ficar sabendo disso agora, quando ler...eh!eh!eh!). Só faltavam 14...
Me chegam o Hélio e Munir com 4 ingressos, via Américo Farias. Total 8. Faltavam 10. O Marcelo não conseguiu achar o Paizão... faltavam 9.... Não dormi a noite inteira. Além de pilhado pela decisão, parte da minha galera estava fora do estádio, pô! Os caras confiavam em mim. Fazer o quê? Às 6 da manhã levantei e acordei todo mundo. Fui devidamente xingado. Quase levei porrada, pois os putos passaram à noite na gandaia. Escolhi os mais chegados e entreguei os ingressos. Deu pena ver a cara dos outros. Mas disse:
- Galera. Todo mundo vai ver o jogo. Vocês confiam?
- Claro, neguinho. A gente confia em você. Se tu não conseguir, ninguém consegue...
- Ok. 9h30 todo mundo na portaria. Vamos para o estádio resolver essa porra.
Caraca. Fui para o meu quarto e me tranquei lá. Chorei que nem um filho da puta. O que fazer? Como colocar o pessoal pra dentro? Porra, todo mundo longe de casa ha 40 dias e, na “noite de gala”, ficar fora. Impossível. Eu tinha que resolver o problema, mas como...?! Não me perdoava. Lá pelas 9h vêm o Mauro, o Munir e Zé Carlos para me darem força. Aí, o Mauro falou:
- Neguinho, vamos roletar essa galera? (Passar na roleta sem pagar!!!)
- Como, cara!? Não estamos no Brasil. Aqui é “cana pura”.
- Sei disso, mas tenho uma idéia. Vamos tentar descobrir onde tem bilheteiro
português. Tem um montão aí. Fica bem mais fácil falar com os caras.
- Puta que pariu. Que boa idéia. Português tem sangue mais/menos brasileiro,
meio jabazeiro. Se pintar grana, leva... Todo mundo riu e o ambiente ficou menos tenso.
- Ok. Vamos dar um milhão de voltas no estádio. O pessoal que tem ingresso vai
procurar bilheteiro lusitano. É só olhar o bigode...E quem não tem, fica comigo pra ver no que vai dar.
- Porra, chefia, que bom que tu se animou de novo. Vamos arranjar essa porra
e depois do jogo “bebemorar” até cair.
Na hora combinada, estava todo mundo na portaria, devidamente vestido. Camisa do Flamengo e bandeira e/ou camisa da Seleção na mão. Pegamos o metrô e fomos para o estádio. Pensei: a esta hora não tem quase ninguém lá. Que nada. Havia dois milhões de pessoas na porta, com o mesmo problema. Sem ingressos. E a polícia francesa prendendo todos os cambistas e à moda Brasil: os ingressos apreendidos iam pro bolso deles... Por volta de 2h da tarde, de repente, vem correndo em minha direção o Marcelo com os dois procuradores. Bufando.
- Neguinho, Neguinho, descobrimos uma bilheteria que tem 4 portugueses. Vamos lá.
- Porra, mas a bilheteria só abre às 4 horas!
- Sei disso, cara. Eles tão ali tomando refrigerantes e batendo papo. Vamos
lá, vamos...
Saí correndo com a galera. Os com ingresso e os sem. Todo mundo louco.
Nos enturmamos e entramos no papo dos caras. Um deles conhecia bem o Brasil: São Paulo e Rio. Só falava em voltar para ver o carnaval, as mulatas, o Maracanã. Pensei: esse é o meu cara. Papo vai, conversa vem, mandei:
- Amigo, tem um montão de brasileiro sem ingresso, doido pra ver o jogo.
- Sabemos, ó pá, mas que se pode fazeire? Não tens ingresso, vais ver pela
televisão.
- Não é assim, amigo. Já imaginou, o cara vem do Brasil só pra assistir ao jogo
e não entra? Se fosse pra ver pela TV, ele não precisava vir, né?
- Sabes que eu num tinha pensado nisso? Coitados...
- Mas temos um jeito de resolver, né?
- Aié? E que jeito pode ser?
- Os amigos da bilheteria deixarem eles passar...!
- Ah!Ah!Ah! Mas como os amigos da bilheteria podem fazer isso, ó pá?
- Simples, simples. Com US$200 por pessoa é fácil.
- US$200 por pessoa. É muito dinheiro, cajo!? Se passas 10 pessoas, estamos ricos!?
- 10 pessoas, nada. São duzentas pessoas.
- Duzeeennntasss!!!. Mas é muito dinheiro, cajo!
- Só depende dos amigos.
- Mas tens um problema, ô cajo. Se passas na minha bilheteria, lá dentro tem
mais dois postos de controle. Como vais fazeire para passaire por eles?
- Sem problemas, amigo. Passando na tua bilheteria, estamos dentro do estádio.
Aí, a gente se vira.
- Mas como, pá? Podes dar problemas para nós se te pegam sem bilhete lá
dentro.
- Fácil amigo. Seguinte: entram uns 5 nossos, com ingressos, certo? Depois,
eles vão até a grade e repassam esses ingressos para o pessoal que está fora, certo? Aí, entram mais 5. A mesma coisa fazemos lá dentro. O problema maior é aqui fora.
- Vocês, brasileiros, são geniais. Descobrem cada coisa... Acho que vai dar
certo. Mas temos outro problema. Ficam com a gente dois policias. E se eles desconfiarem?
- Como vão desconfiar, cara? A polícia é para revistar as pessoas. São vocês
que mandam, ok?
- Vamos conversar e, na hora que a bilheteria abrir, vocês nos procuram, certo?
- Certo, irmão. Além da grana, cada um vai ganhar uma camisa do Brasil. Dá
uma força, por favor...
Eles saíram rindo e conversando. Eu tinha certeza que topariam fazer a “mutreta”. Relaxei um pouco e fui comer alguma coisa. A galera já estava mais confiante. Chamei todo mundo e disse:
- Pessoal, o esquema está armado. Vai dá certo. Todo mundo com US$200,00 na mão. Quando abrir a bilheteria, vamos entrar. Eu fico com o Zé do lado de fora. Entram Mauro, Munir e o Marcelo, para comandar lá dentro. Vocês já sabem o esquema, ok? Quem entrar, fica por ali, de “migué”. Reúne os ingressos e me entrega pela grade. Aí, entram mais 5. Depois, os primeiros passam na segunda roleta, no mesmo esquema. Os caras só olham o ingresso. Um fica do lado de cá, pra receber as entradas. Passa a segunda galera e assim até lá em cima, certo?
- Certo, chefia. Você é genial. Vou ficar te devendo essa pro resto da vida...
Abriu a bilheteria e eu cheguei perto dos caras já oferecendo a camisa do Brasil. Eles me olharam (eram 4) e deram o sinal positivo. Das 4h da tarde até às 8h da noite, consegui botar uns 200 brasileiros dentro do estádio. O pessoal do Sul do Brasil (Porto Alegre, Floripa e Paraná) me deve essa. E vou cobrar!!! Pela primeira vez na vida, os europeus viram negozinho assistindo ao jogo em pé. A Dona FIFA não deve ter gostado disso...
Mortão de cansaço, lá pelas 8h eu entrei e fui para o meu lugar. O estádio cheião e tinha negozinho sentado no chão, dois em cada cadeira, em pé... Uma zona... E os voluntários sem entender nada...Começou a festa de encerramento: papagaiada, desfiles e o diabo (eu odeio isso)! Porra, queria era ver jogo. Queria era terminar logo aquilo. Queria ser PENTACAMPEÃO MUNDIAL. Quando acabou a festa de encerramento, o time da França entrou para aquecer. Nada do Brasil...Começou a dar um friozinho na barriga. O sexto sentido me dizia que alguma coisa estava errada. Chamei o Zé e falei:
- Zé, tem alguma coisa errada. Não sei o quê.
- Sabe que também tô pensando nisso? Era para o time entrar e aquecer
junto com a França. Será que esses putos estão amarelando...???
- Não acho. Só tem fera, a maioria campeão do mundo nos Estados Unidos.
Tem alguma coisa errada.
E o tempo passou. O Brasil não aqueceu no gramado. Entram os dois times para o jogo. Que jogo??? Não teve jogo...Desnecessário falar sobre a partida. Jogador chutando vento... Os nervos à for da pele...O Roberto Carlos chutando a bandeirinha de corner (era para ser expulso). Lá em cima, na arquibancada, eu sem entender nada...2x0 no primeiro tempo... Longe da gente (graças a Deus), só ouvia o Dartagnan tocar aquela porra de corneta... “vamos virar... vamos virar... em cima, embaixo... embaixo, em cima... Meu Deus...!!!
O Mauro me olhou e perguntou:
- Neguinho, o que qui tá acontecendo...? Alguma coisa aconteceu. Aí, só tem cobra criada, campeões do mundo... Ninguém ia tremer assim;
- Sei tanto quanto você, cara. Tem alguma coisa errada.
Começa o segundo tempo e o time pior ainda... Por volta dos 30 minutos, o time francês já estava começando a fazer “cera”. Um jogador deles caiu no gramado e o Rivaldo, com uma “gentileza” irritante, manda a bola para a lateral. O Edmundo parte para cima dele e dá um esporro:
- Porra, tamos perdendo de 2 x0 e você fica de gracinha...Olha o placar, caralho. Vai tomar no cu...
Depois desse lance, eu levantei e fui embora. A minha galera acompanhou. Não dava mais... Cheguei ao hotel e nem sabia o resultado final do jogo. Dormi e, às 5 da manhã, fui para o aeroporto e peguei um vôo para Londres. Queria pegar um avião para o Brasil de qualquer jeito. Só queria fugir de Paris. Cheguei em Londres às 7h e meu vôo para o Brasil era só no dia seguinte. Procurei um hotel e dormi as 30h que faltavam. Acordei e fui para o aeroporto. Aí é que vim a saber que o jogo foi 3x0. Também soube do problema do Ronaldinho (notícias desencontradas; ninguém sabia nada. Era tudo especulação). Foi isso que desestabilizou o time? Até hoje não sei. Até hoje não entendi e acho que nunca vou entender