Ser Flamengo é ter alma de herói

"Há de chegar talvez o dia em que o Flamengo não precisará de jogadores, nem de técnico, nem de nada. Bastará a camisa, aberta no arco. E, diante do furor impotente do adversário, a camisa rubro-negra será uma bastilha inexpugnável."

Campeão Brasileiro - 1980

FLAMENGO: CAMPEÃO BRASILEIRO DE 1980


Em 1980, finalmente, o Flamengo provava o que já era sabido desde 1977: que era o melhor time do mundo. Precisávamos, contudo, ganhar o Campeonato Brasileiro para ir à Taça Libertadores da América e depois ao título Mundial dos Clubes. A final foi entre o Flamengo e o Atlético Mineiro (tinha um timaço), com a primeira partida realizada no Mineirão. Jogo chato pra cacete. Daqueles de torcedor enfartar.

Para ver o jogo a Raça lotou uns cem ônibus, e contava com o apoio da torcida do Cruzeiro e dos milhares de flamenguistas que moravam lá. No meio do caminho entre Rio e Belo Horizonte existe um restaurante muito conhecido e que hoje está presente em todos os maiores shoppings do Brasil - o Cupim. É ele mesmo, o dos pães de batata. Este restaurante ganhou fama entre os integrantes da caravana pela bela coleção de peixes ornamentais que possuía e pelos faisões que ciscavam tranqüilos no quintal.

Nem bem o ônibus em que eu estava parou, todo mundo desceu para ver os tais peixes e faisões. Achei estranho tamanho interesse em coisas tão delicadas, vindo de gente que nunca foi conhecida pela fineza dos tratos. Comecei a entender o que se passava quando vi o Kadoca descer com uma lata grande. Resolvi acompanhá-lo e o vi enchendo a lata d'água, e enfiando a mão no aquário para pegar os peixes. Quando voltamos para o ônibus, outra presença marcante – um faisão sentado em uma das poltronas.

Seguimos viagem sem outras paradas e com diversos peixes mortos pelo chão do ônibus. Quanto ao faisão, ou foi comido cru ou foi jogado pela janela do ônibus. Desnecessário dizer que, nos muitos Flamengo e Atlético que se sucederam, o Cupim passou a ter um batalhão de polícia na porta, que impedia a parada de qualquer ônibus de torcida.

Perdemos o jogo por 1 x 0. Um grande jogo. Pelo placar apertado achava que dava para reverter no Maracanã. Já me considerava campeão. No jogo de volta uma vitória simples daria o título ao Flamengo. Sabíamos que ganharíamos, mas foi uma pedreira. Ganhamos de 3x2, com direito a “enfarto” coletivo. Os 10 mil componentes da Raça “morreram” do coração. Que sufoco... Flamengo Campeão Brasileiro. A longa estrada para Tóquio começava a ser desbravada