PERIPAQUE DO CAIXA D'ÁGUA

No inicio dos anos 90, o Presidente da Federação de Futebol do Rio de Janeiro, Eduardo Viana, o popular Caixa D água. Sofreu um enfarto. O fato aconteceu no final da tarde de uma quinta-feira, lembro bem.
A noticia correu as rádios e jornais. Naquela época não havia essa febre de internet nem celulares. Assim, quem não ouviu a noticia só poderia saber pelo boca a boca, o noticiário esportivo ou então esperar o Jornal Nacional.
Eu, como sempre, alienado acabei meu treino por volta de 19.30hs. e fui para casa tomar banho, comer alguma coisa e dormir. Não é mole treinar de 6 a 8hs por dia. (eu fazia triathlon). Não sabia da noticia.
Lá pelas 11 horas da noite, acordei com um barulho infernal. Eram cerca de 10 "malucos" vestidos a caráter, ou seja, camisas do Flamengo, Vasco e Botafogo, soltando fogos em frente ao meu prédio, completamente "mamados" e cantando...
- Eu, eu, eu, o Caixa D água se fudeu...
- Eu, eu, eu, o Caixa D água vai morrer...
Embaixo da minha janela gritaram a todo pulmão.
-Neguinho, filho da puta, acorda viado, vem comemorar, porra!!!

Acordei no susto e pensei: - Que porra é essa??? Essa porra é comigo. Tô fudido. Por duas razões:
Primeira: porra, me acordar aquela hora, alta madrugada. Eu morto. Tinha treinado o dia inteiro e tinha que levantar às 4 da manhã pra pedalar;
Segundo: tinha um medo cão da síndica do meu prédio. Dona Marlene (advogada) e seu marido, Seu André, (Oficial da Marinha) Pessoas sérias, formais. Quem fizesse lambança no prédio era multado na hora. E a multa era salgada.
Beennnnnn. Era o interfone tocando. O porteiro, Severino (porque que todo porteiro é Severino em?), falou:
-Seu Moraes, tem um monte de maluco aqui na portaria querendo subir pra falar com você. Que qui eu faço?
- Num deixa subir não, pelo amor de Deus. Já vou descer;
-Vem logo, pois os moradores tão reclamando. A Dona Marlene já vai descer...
Pensei: Tô fudido. Botei a cabeça na janela e a galera me viu.
-Desce logo viado, senão vamos subir. Vem comemorar...
- Gritei: porra, comemorar o quê, caralho?
Lavei o rosto correndo, botei uma bermuda, camiseta e desci voando
Cheguei lá embaixo, e eles me cercaram.
-Vocês tão malucos? Que porra é essa? Tão querendo me fuder?
-Nada chefia, é por uma causa nobre.
-O que foi?
-Tu num sob não? O Caixa D água teve um peripaque!
-Morreu???
-Não, mas vai morrer! Aquele filho da puta vai morrer! O diabo tá esperando ele no inferno com um churrasco, cachaça e muito fogo. Ele vai arder nas profundezas do inferno até feder...
-Caralho, o cara ainda nem morreu e vocês já estão comemorando...
-É pra dar sorte chefia. Dessa ele num escapa.
Caraca, se não fosse trágico seria cômico. Os Malucos devidamente uniformizados, com completamente "mamados" comemorando a "morte" do cara. Detalhe: com vários engradados de cervejas pra "festa".
A essa altura, todos os vizinhos já estavam nas janelas, "putos", com a barulheira. Aí veio o golpe de misericórdia. Nossa gloriosa síndica chegou à portaria com seu André, os dois de pijamas, com caras de poucos amigos.
-Seu Moraes, fazendo bagunça a essa hora!!! Serei obrigado a chamar a polícia.
-Desculpas Dona Marlene, esses malucos vieram comemorar uma "morte", a senhora acredita?
Ela – Cruz credo.Vixe Maria.  Morte de quem gente?
O Nelsinho nem deixou eu falar:
-Do Caixa D água, "tia".
- O da Federação? Ele morreu?
- Ainda não "tia", mas vai morrer, com fé em Deus e no Diabo!!!
- Vamos por parte. Primeiro "tia" é a puta que pariu a tua mãe. Pode me chamar de Marlene. Segundo. Isso realmente merece uma comemoração. Todos por Play!!! Sem fogos ok! Só a cerveja. Quando ele morrer podem soltar os fogos na praia. É só atravessar a rua.
Aí que não entendeu foi eu. Fiquei com cara de babaca. Caramba, a mulher toda formal, o maridão milico caxias... Botou todo mundo no play pra "festa". Detalhe: aos vizinhos que perguntavam o que estava havendo, ela comentava o assunto e insistia para desceram pra "comemorar".
A porra durou a noite inteira. E os detalhes pra comemoração da morte do cara!!! Eram mil planos. O que eles imaginavam que ia fazer no cemitério era de morrer de rir. Tinha negozinho fazendo planos pra invadir o hospital e dar uma injeção letal no moribundo. Outro que queria se disfarçar de médico pra desligar os aparelhos respiratórios...Teve gente que se mijou de tanto rir...
As noticias sobre a saúde do cara nos sabíamos via Radio Globo. Tem um repórter que está até hoje lá (não digo o nome porque ele me mata. Assado em banho maria) nos dava a noticia. De hora em hora ligávamos pra rádio pra saber como andava o cara. Por volta das 5 da manhã, o Caixa D água ainda vivo, a galera começou a dispensar, pois tinha "trabalho" no dia seguinte. Era grande a frustração.
Ficaram de voltar quando o "fato" se consumasse, o que infelizmente não ocorreu.
Foi hilário. Ri muitoooooooo