Ser Flamengo é ter alma de herói

"Há de chegar talvez o dia em que o Flamengo não precisará de jogadores, nem de técnico, nem de nada. Bastará a camisa, aberta no arco. E, diante do furor impotente do adversário, a camisa rubro-negra será uma bastilha inexpugnável."

Copa do Brasil - 2004

Copa do Brasil 2004 - Primeira partida contra o Santo André.

Flamengo e Santo André. Primeira partida da decisão da Copa do Brasil. Lá vou eu de novo viajar pra ver o meu mengão numa decisão. Desde 1996 eu não viajava com a galera. Soube pela minha amiga e "quebra galhos" Marilene Dabus, assessora de imprensa do Flamengo, que o clube estava organizando uma excursão pra "Diretoria e convidados" e que os ônibus sairiam da Gávea. Liguei e consegui um lugar. Com a torcida, do qual estou afastado desde àquela época, não dá mais pra viajar. O medo é maior que a paixão.

Estava marcado para os 3 ônibus saírem da Gávea às 10.30 da manhã. Lá estava eu. "Paguei" e fiquei esperando. Aí começaram a chegar as pessoas. Gente de nível, alguns Vice-Presidentes.  Chega o Tampa e o Siri, (que foram comigo ao Japão ver o Flamengo em 81). De repente aparece o Cláudio, fundador e eterno líder da Raça Rubronegra. Um grande amigo e principalmente "ídolo". No futebol tenho duas referencias: a primeira o ZICO, o Deus maior. Inigualável e insubstituível. A outra é o Cláudio. Esse cara, para a minha geração,"fora dos gramados" teve a mesma importância do ZICO. Ele praticamente mudou o conceito de torcidas do Brasil. Ainda hoje, mesmo discordando do papel das torcidas organizadas, não se pode deixar de reconhecer a beleza e a plasticidade da Raça. Dentro do estádio, como vibração e beleza, isso é inquestionável.

Outras "malas" dos bons tempos chegaram e o papo fluiu com recordações fantásticas. Deu uma saudade... A maioria era de uma mulekada legal mas"pinguça". Inacreditável como esses garotos, alguns de 15 a 18 anos bebem. Só falam em cerveja, porra! Aí aconteceu uma coisa legal. Através do meu site, entrou em contato comigo um cara chamado Bernardo Buarque de Hollanda, primo do nosso Chico Buarque de Hollanda. Ele é um pesquisador e está fazendo um trabalho para publicar sobre torcidas organizadas. Me pediu várias informações. Eu disse que a pessoa ideal pra falar sobre o assunto seria o Cláudio, que é a memória viva das torcidas. Por coincidência os dois sentaram no mesmo banco sem se conhecerem. Papo vai, papo vem, o Bernardo perguntou:

-Você é da Raça? Poxa, o Moraes me falou do fundador da torcida, um cara genial chamado Cláudio, você conhece?

-Tá falando com ele
.

Foi hilário. Fiquei feliz e ao mesmo tempo com o pena do Bernardo. "Feliz" porque ele finalmente tinha conhecido o Cláudio e a pesquisa dele vai deslanchar."Com pena" porque se deixar o Cláudio falar tá fudido... Ele é capaz de falar por 10 dias seguidos sem respirar e com aquela eloqüência e postura de político em fim de carreira... putz... Desculpa Bernardo... Teu ouvido tá ardendo até hoje.

A viagem foi tranqüila. Paramos somente uma vez para comer alguma coisa e a galera "comprar cerveja"... Caramba... Mal o ônibus parou a Policia Rodoviária cercou o pessoal e foi logo avisando: - bagunça não. Se tiver qualquer problema o "cacete" vai comer... Eles têm toda razão. Hoje em dia a torcida além de comer de graça ainda rouba a caixa registradora...

Chegamos em São Paulo quase 9.hs. Um inferno o "chiqueirinho". Porra, o jogo era pra ser no Pacaembu. O estadinho estava lotado e tinha mais de 10 mil pessoas do lado de fora. A torcida era toda nossa. Deles só meia dúzia de gatos pingados. Impressionante o amor que o Flamengo desponta em todo o Brasil. Há se os dirigentes tivessem a sensibilidade disso...!!!!

Antes do jogo começar encontrei mais amigos das "antigas" que tinham ido de carro, avião e sei lá como, e para minha surpresa os irmãos Bruno e Rodolfo Vaz de Carvalho, filho do cineasta e escritor Joaquim Vaz de Carvalho que fez o livro dos 100 anos do Flamengo. É uma geração de flamenguista xiitas. Tanto assim que os dois filhos do Rodolfo de 2 e 4 anos, antes de falarem "mamãe"e "papai" foram devidamente "treinados" para falarem "mengo". Caso contrário, seriam devidamente estrangulados.

O Flamengo começou o jogo com 6 jogadores, pois o Reginaldo Araújo, o Roger, Douglas Silva, Da Silva e o Negreiros não podem ser considerados jogadores. Num dá, desculpas mas num dá. A bola atrapalha...é muito redonda... E o Athirson de fora... Meu amigo Flávio Machado (do Colégio Santo Agostinho) fica puto quando digo isso. Diz que o Athirson tá mal... Porra, o cara tá parado e precisa jogar pra pegar ritmo de jogo e tempo de bola. Só entra na furada. O Athirson com hepatite, tuberculose e sem uma perna joga mais que o Roger.

Tenho uma filosofia minha. Nunca vou vaiar um jogador vestido com a camisa do Flamengo. Até mesmo o Negreiros e o Diogo, que bem poderia ser entregadores de jornais, caixa de supermercados, engenheiros, etc. etc., mas nunca jogadores de futebol. Eu respeito e incentivo quando eles estão vestidos com o manto sagrado. Xingo muito o Junior, o Abel e a Diretoria que os contratou.

Até que nos primeiros 30 minutos dava pra levar a partida. O time deles sentiu a pressão e quase não chegou. Fizemos 1x0 e achei que a gente ia meter uns 3 e liquidar a fatura. Quando o Da Silva se machucou vibrei. Pensei: caramba, menos um pra atrapalhar. Vai entrar o Robson que pelo menos trata a bola com mais carinho. O garoto entrou muito mal e o time se destrambelhou. Irreconhecível. Eles empataram e logo depois fizeram o segundo gol. Nunca pensei na minha vida que fosse sentir falta do "Da Silva". Putz...

Pensei novamente: pronto, vamos levar uma porrada feia e não vai dá pra virar no Maracanã. O medo de goleada ronda minha cabeça em todas as partidas do Flamengo.

No lance do primeiro gol deles eu achei impedimento (depois vi na tv que tinha sido legal). Mas fiquei puto porque os jogadores não foram pressionar o bandeirinha. Era pra todos os jogadores irem pra cima dele. Olhei pro Eller e vi ele perguntando ao pessoal da TV Globo se tinha sido impedimento. Alguém respondeu que tinha legal e ele virou as costas. Porra, time pequeno, estádio pequeno e a torcida em cima, o cara ia amarelar. Se tivesse havido a pressão, tenho certeza que no segundo gol deles, também meio duvidoso, ele ia marcar impedimento. Os jogadores do Flamengo precisam de mais malandragem, pois se formos pra Libertadores o bicho vai pegar. Só tem "bandido" e se der uma de santo, dança feio.

O Athirson tinha que ter entrado no inicio do segundo tempo no lugar do Negreiros (Abel: o Diogo não, pelo amor de Deus... Prefiro até o Júnior Baiano como atacante). Depois ele entrou no lugar do Roger. Trocou seis por meia dúzia. Na hora da falta que resultou o empate, falei: Puta que pariu, o Athirson acabou de entrar. Vai isolar essa porra... Gooollllllllll. Caralho, que alegria.

Agora o segundo jogo na nossa casa. O Maraca é nosso alçapão. Totalmente lotado. Tomara que o time entre mordido, com vontade. Não podemos decepcionar a galera. Vamos ganhar, com fé em Deus.

Se formos campeões estaremos na Libertadores.. Dá pra sonhar novamente. Vou voltar a viajar com o time. Vou ter novamente historias pra contar.

Libertadores...Tokyo...

Vai começar tudo de novo.