Ser Flamengo é ter alma de herói

"Há de chegar talvez o dia em que o Flamengo não precisará de jogadores, nem de técnico, nem de nada. Bastará a camisa, aberta no arco. E, diante do furor impotente do adversário, a camisa rubro-negra será uma bastilha inexpugnável."

Do fundo do Baú...


Do fundo do Baú...

Passagens contadas no livro da jornalista Maria Neiva Nin, aí da foto. Tem apenas 6 meses, mas já foi indicada pra Academia Brasileira de Letras.

Querem cópia do livro? Nada de dindin. Mandem apenas fraldas (como kaga a pentelinha, como kaga) e leite de bodi. Tá em promoção. Uma lata 40 reaus, duas por 300 paus. E isso porque tá na promoção.

Primeira: Flamengo x Goiás, em Goiânia, inicio da década de 70. O Nelsinho cismou que queria ir de carro, pois tinha ganhado um Karmanguia (nem sei se escreve assim).

Carro novinho, dois babacas saindo na quinta-feira, do Rio pra Goiânia pra dá tempo de chegar a tempo. Estradas ruins? Estradas? Na década de 70? Burraqueira ruim quis dizer.

Partiu. Nada de rádio no carro, num pegava, bora que bora. A previsão era chegar no sábado, de boa, descansar e vê o jogo.

E, nada de chegar. Nada de informação. Só burakeira. Só poeira. A gente perdeu inté a sensação dos dias. Nem sabia se era sexta ou sábado. Discussão dentro do carro. Quase porradaria...

Na sábado de tarde descobrimos que tavamos perdido. Tínhamos errado a meleka. Tavamos na fronteira de Sun Paulo com a China. Puta que pariu. Sorte que achamos uma puliça (tinha, nakela época tinha), corrigido o rumo, chegamos em Goiânia.

Domingo, 6 da tarde... Corre pro estádio... Entra no estádio aos 40 minutos do segundo tempo... Senta na arquibancada... Deu tempo pra vê o Caldeira (ponta eskerda do Mengão) bater um escanteio, o Dionísio (nosso atacante) cabecear pra fora e... Cabô o jogo...

Ódio mortal. Perdi um amigo pra toda vida.

Segunda: Excursão do Flamengo pra Europa. Jogos em Portugal, Espanha, Holanda e Itália.

Nakela época só viajava de avião quem era rico. Muito rico. Nakela época só viajava de avião pra vê jogo de futebol na Europa, além de rico tinha que ser maluco ou doido.

Nakela época ou você viajava com o time ou não via os jogos, diferentemente de hoje, que você sai daki 14 horas pra Sun Paulo, vê o jogo e 8 da noite tá em casa.

Nakela época, quem ia presses jogos, ia com os jogadores, ficava no mesmo hotel. Maior congraçamento, diferentemente de hoje que... Deixa pra lá...

Nakela época, ninguém comia ninguém. Explico: geral ficava maluco. Conversava com as garotas, tomava cerveja e tal, mas na hora do vamo vê... Necas. No saguão do hotel era um tal: e ai, saio do zero a zero? Comeu alguém? É só perguntar aos amigos jornalistas das antigas: Renato Mauricio Prado, Kleber Leite, Antonio Maria, Tino Marcos, Galvão Bueno, Roberto Assaf, etc.etc.etc.

Neguinho se virava mermo era no banheiro numa briga escrota da mão com os cinco dedos...

Agora, incomodava aki no Brasil uns babacas que viajavam e chegavam contando historinhas: comi umas louras lindas, blá-blá, blá. Dava raiva. Tudo cascata. Ou pagava as “primas” ou num comia ninguém.

Então vamos lá. Fui com o Robson, mulekão bunitão, rico que nem um cão, e metido a comedor.

“Vou comer akelas louras burras, elas vão vê o que é maxo brasileiro”.

Beleza. Partiu. Primeira semana em Portugal... Nada.

- E aí, gostosão? Nada?

- Pera, na Espanha vai ser moleza...

Espanha? Nada. O cara já tava ficando doido. A gente saia, achava as “primas”, a mais barata 100 dólares. Sem chance... 

Ai chegamos em Amsterdã. O hotel do Flamengo ficava pertão da estação central de trem, onde tudo acontece. Tudo. Mulheres lindas, mulheres feias, vitrines de mulheres nuas, o coração da parada.

À noite fomos fazer “o reconhecimento”. E nada...

Na terça, depois do treino do Flamengo, voltamos pro nosso hotel. Tomei banho, deitei e meu amigo “comedor” tava no banho.

De repente ele sai, e falou puto:

- Negão, tô ficando maluco. Hoje eu vou comer alguém de qualquer maneira.

- Ei, ei, ei, nem olha pra mim seu filho da puta. Vai tomar no olho do seu cu...

- Não porra, tô falando sério, caralho. Por favor, me leva lá na estação. Hoje num escapa. Num guento mais bater punheta.

- Cara, custa 100 dólares, no mínimo. Vai pagar?

- Pago no máximo 20.

- Volta pro banheiro e bate mais uma tá.

- É sério, por favor, me leva lá. Beleza. Levei.

Nakela época quase ninguém falava inglês. A comunicação era por sinal, portonhol ou portuingrês.

Nada, 20 dólares, nada. Quando ele mostrava a nota elas xingavam. De repente, nada mais que de repente apareceu a vitima...

Gente, imagina ai o Obina, sim o Obina que jogou na gente, cabeludo, de barba, de bikini roxo, batom vermelho e peruca loira...

Puta que pariu. Nunca tinha visto uma Negona tão feia. 2 metros de altura, 400 kilos. Toda cabeluda.

- Porra, tá maluco? Vai encarar isso aí?

- Vou. Aceitou os 20 paus. Me espera ai 40 minutos, por favor.

Pensei. Espero. Essa porra num vai demorar 5 minutos...

Lá se foram eles por akelas ruelas escuras.  10 minutos depois, meu amigo Robson, o bonzão, o comedor, o fodão, voltou... Cara de choro, a cara vermelha marcada com os 5 dedos da Negona.

- Que houve?

- Negão, quando ela tirou a roupa o fedô foi insuportável. A puta nunca tomou um banho na vida. Ai desisti... Ela tomou meu dinheiro e ainda me deu um tapa...

Passei mal de tanto rir...

Valeu

Moraes

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