Ser Flamengo é ter alma de herói

"Há de chegar talvez o dia em que o Flamengo não precisará de jogadores, nem de técnico, nem de nada. Bastará a camisa, aberta no arco. E, diante do furor impotente do adversário, a camisa rubro-negra será uma bastilha inexpugnável."

O dia que ganhei dinheiro pra vê o Brasil jogar.

O dia que ganhei dinheiro pra vê o Brasil jogar.

                          O dia que ganhei dinheiro pra vê o Brasil jogar.

Cês que me acompanham sabem que “vivo para o futebol sem VIVER DO FUTEBOL.”

 A chance de aceitar dinheiro ou vantagens de dirigentes seja do Flamengo ou Seleção Brasileira é zero vezes zero multiplicada por zero. Aliás, num dou a menor brexa pra isso. ZERO.

Abre aspas: a única Copa do Mundo que ganhei ingresso foi na África do Sul através do Paulo Paixão preparador físico da Seleção que, atendendo um pedido do Zico, me cedeu ingressos. No resto, ou comprei na CBF ou na porta dos estádios.

Pois bem, teve um jogo do Brasil pelas eliminatórias da Copa do Mundo que ganhei dindin, mesmo sem kerer. Valos lá:

Eliminatória para a Copa de 2010 na África. BrasilxArgentina em Rosário (ou Córdoba), num lembro.

Já falei num post anterior. Flamengo x Vascu e Brasil x Argentina são os jogos que me dão muitoooooooo prazer.

Vou ou num vou. Duraçoooo, como sempre. Porra, como guardar dindin. Viagem dia sim dia não. Como arranjar grana pra ir. Passagem cara e pra quem compra na véspera como eu...

Vou pressa porra. Quando voltar me viro pra pagar.

Vôo Moraes: “Rio-Porto Alegre-Buenos Aires. Troca de aeroporto. Rosário (ou Córdoba)”. Coisa de corno.

Cadê ingresso? Num tem. Um picão aki no Brasil falou: “Procura o Florian lá em meu nome. Ele é um grandão da AFA e vai te vender os ingressos”. Era a única coisa  que eu tinha. O nome e endereço do picão da AFA e a passagem. Nada de hotel, nada de estrutura. Nada. 100 dólares no bolso. Partiu.

Na escala de POA entrou um grupo de brasileiros esporrentos que iam pro jogo. De repente ouvi:

- Moraes, é você mesmo. Graças a Deus. Ari, Ari, nosso problema ta resolvido. Olha quem ta aki?

- Era o Marcelo, um dono de agencia de viagens em POA que eu conhecia de Copas do Mundo. Tava com o irmão Ari, levando 46 pessoas pra assistir ao jogo e ficar inté domingo na Argentina.

- Beleza muleke. Me tira dessa. Num sei o que é, mas deve ser pica;

- Pica? De elefante. To levando esse Povo aí pra assistir ao jogo sem ingresso. Levei um beiço de um cambista em Buenos Aires que ficou de me arranjar, paguei e dancei. Graças a Deus te encontrei ou tava fudido.

- Continua fudido ô viado. Eu também to na merda. Num tenho nada. Hotel, ingresso, nada. E duraçoooooooooo.

- Teus problemas terminaram. Já tem hotel e estrutura. Num vai faltar nada, mas coloca meu Povo pra dentro, pelo amor de Deus.

- Cara, que posso fazer? Só na mão de cambistas, assim mermo em locais divididos. Nenhum cambista tem 50 ingressos juntos. Só falso.

- Negão, se tu num resolver, ninguém resolve. Tu sabe.

- Qual o valor do ingresso que tu pagou?

- O preço oficial é de 30 dólares. Cobrei 60 pro grupo. Acha um cambista e pago inté 100 cada um.

- Beleza, vou vê o que posso fazer.

Fikei no grupo. Buzão do aeroporto ao hotel, suíte porreta, jantar. Um Pajá. Pra quem foi duro...

- Bem, amanhã cedo vou procurar o cara. Preciso de dinheiro pra pagar os ingressos, se conseguir, claro.

- Claro. Toma 5 mil dólares e não volta sem os ingressos, pelo amor de Deus. Que falo pro grupo? Me mato.

Fui drumir, preocupadão. Como fazer. Acordei 6 hs, banhão, cafezão, e lá pelas 7hs me mandei pro comitê da AFA.

Pensei: vou chegar cedão e pegar o tal Florian antes de começar o inferno de gente atrás dele. Cheguei antes das 8, tudo fechado só uma portinha aberta com um vigia.

- Bom dia, vim esperar o Sr. Florian chegar...

- Ele já chegou. É akele ali, vai lá (tudo em purtonhol);

- Bom dia, Sr. Florian, só Francisco Moraes do Brasil, fulano da CBF pediu pra procurá-lo;

- Bom dia Francisco. Só tenho ingresso de segunda a 50 dólares. Quantos o senhor precisa?

- Cinquen... Cinquenta;

- São 2.500 dólares. Abriu a gaveta e começou a contar os ingressos... 1, 2, 3...

Quase tive uma kaganeira. Porra, a noite toda sem drumir pensando no que fazer e em menos de um minuto tava tudo resolvido.

Voltei pro meu hotel. No bolso esquerdo 50 ingressos. No direito os 2.500 dólares restantes. Cheguei, os irmãos tavam no restaurante tomando café. Botei os ingressos em cima da mesa.

- Num era isso que cês keriam?

- Me beijaram, me abraçaram: “tu é o cara, tu num existe, o máximo, blá-blá-blá. Quanto custou?

- 100 dólares cada. O dinheiro foi todo embora... Mal sabiam eles... 2.500 aki Ó.

Tão sabendo agora. Vão entrar aki me xingando de crioulo, feio e viado. O dindin... Dançou Mané. Pra deixar de ser Mané...

Vi o jogo. Ganhei o jogo (acho que 3x0 ou 3x1), num gastei um puto, me reembolsei da passagem, tive lucro de uns mil dólares e ainda sai como herói.

Valeu

Moraes

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