Ser Flamengo é ter alma de herói

"Há de chegar talvez o dia em que o Flamengo não precisará de jogadores, nem de técnico, nem de nada. Bastará a camisa, aberta no arco. E, diante do furor impotente do adversário, a camisa rubro-negra será uma bastilha inexpugnável."

Pra minimizar essa tristeza absurda - Causos da Raça.

Pra minimizar essa tristeza absurda - Causos da Raça.

Pra minimizar essa tristeza absurda - Causos da Raça.

77/78, a Raça tinha uma sala no Maracanã debaixo das arquibancadas. Era o quartel general deles. Eu chegava cedão, passava lá rápidão e ia vê o jogo de aspirantes (ou juvenil, sei lá).

Às 3hs, as torcidas entravam nas arquibancadas num tremular de bandeiras que era a coisa mais linda do mundo. Meio de campo saindo à direita, cada na direção do seu local próprio. Coisa de cinema.

A Raça, no 52, botava as bandeiras, bateria e o material da torcida pra venda e saía à luta.  Vendia de tudo. Camisas, camisetas, canetas, blocos de papel, abacate sem caroço, melancia sem casca, peixe sem escama…

Um belo dia o “Chefe” me abordou: “ pô, tu é o cara mais bunito e famoso da torcida, ajuda a gente aí. Pega umas coisas pra vender”.  Pensei, esse puto é meio boiola, me chamando de bunito, mas vamos lá. Peguei e vendi rapidin. Prestei contas pra garota que anotava, reabasteci e vendi tudo de novo. Na terceira vez o Gustavo Vilela me pegou lá em cima: “Neguinho, me dá uma camisa e um bloco de papel preu dá prum amigo. Acerto com o Chefe.”

Dei o que ele pediu,  prestei contas e expliquei pra moça a parada, mas num demorou muito o Chefe veio babando pra cima de mim. “Cadê o dinheiro da camisa ô ladrão”? Ué, prestei contas, pergunta prela.  Mas faltou uma”. 

“Gustavo, ô Gustavo, esse filho da puta tá me chamando de ladrão. Paga ele ou te arrebento…”

E assim terminou minha experiência como vendedor de camisas da Raça. Só muito tempo depois descobri a compra de um apartamento em Monte Carlo e uma fazenda na Austrália, mas isso é outra conversa...

Há testemunhas. Continua o alerta máximo. Se eu aparecer morto…

Valeu

Moraes