Materia publicada no site do Flamengo
Título regional vale sim. E muitoooooooo.
Galera. Tem uma corrente de jornalista que esnoba os títulos estaduais, dizendo que não valem nada, que é para conseguir votos e perpetuar os dirigentes de federações etc etc. Concordo em parte e já falei disso no meu site. Realmente, os campeonatos estaduais deveriam servir como preparação pro Brasileiro. Mas como não curtir? Como não sacanear o arco-íris?
Tem coisa mais gostosa de que acordar na segunda-feira após uma vitória do Mengão e curtir a cara do Severino Botafoguense? Mandar e-mail e torpedos, gozando os caras? No campeonato brasileiro, vou sacanear quem? Vitória sobre o Palmeiras no Maraca... No máximo um vascaíno passa por mim e diz:... "Ganharam roubado, né?".
Sou de uma época em que os estaduais eram a jóia da coroa. Neguinho se matava para ganhá-lo. E competição nacional era no máximo um Rio-São Paulo.
Sou de uma época em que só tinha craques jogando o Cariocão. No Rio, era pau a pau a briga entre Flamengo, Vasco, Botafogo, Tricolor e América. Ninguém tinha hegemonia.
Sou de uma época em que o Flamengo ganhava do Vasco e eu ia na torcida deles, gozar os caras. Hoje, se faço isso, levo um tiro de AR-15 nos córneos.
Sou de uma época que o Botafogo nos humilhava constantemente. Ganhava um dia e no outro também. Dois dias antes do jogo eles já gastavam o bicho por conta. Era terrível aguentar a gozação. Em 1968 o Flamengo era praticamente campeão carioca. Bastava empatar contra o Bonsucesso. O campeonato era tão dado como certo que o Botafogo abandonou e foi fazer uma excursão pelo Nordeste. Pois bem, numa quarta-feira à noite perdemos de 2x0 pro Bonsuça e tínhamos que fazer um jogo extra contra o Botafogo. Eles voltaram de viagem, já dizendo que iam meter quatro na gente. E meteram. Doeu muito. A gozação demorou meses.
Sou de uma época em que, no dia 15 de novembro de 1972, tomamos de seis deles. Nossa Senhora... Foi terrível. Lembro bem que após o jogo nem fui para a minha casa. A torcida deles, toda, estava lá, em frente, me esperando para sacanear. Peguei um buzão e fui "meditar" na Pedra do Arpoador. Revoltado, chorando, com vergonha. De repente, de dentro da água me aparece o "Cabeludo", o JC, o filho DELE, Pai Supremo. Pensei, tô sonhando... O Cara tava com os olhos vermelhos de tanto chorar. Ele é flamenguista roxo. Sentou do meu lado e falou:
Liga não, filho. Isso vai acabar.
Num fode cara. Tu és filho do "homem", criador do mundo, flamenguista e deixa isso acontecer? Sabe quando vamos nos vingar disso? Vinte anos no mínimo.
(Nisso, uma voz grave fala lá de cima):
Não fale palavrão para o meu filho, porra...
(Olhei para o céu e vi em cima de uma nuvem, o Pai e a Mãe Dele, com cara de zangados)
Desculpa, Virgem Maria, malzão.
Relaxa, mãe, ele não sabe o que diz...
Pôxa, irmão, isso nunca vai acabar. Esses caras sempre ganham da gente...
Vai sim, filho, vai sim. Já, já, isso acaba. Sabe aquele garotão dos juniores, o Zico? Ele tá sendo preparado para ser o maior jogador do mundo. Ordem do meu Pai. Daqui a pouco nós vamos reverter isso.
Jura? Que teu pai seja louvado. Agora, tô mortão e quero ir pra casa e tem 300 caras querendo me gozar. Manda uma chuva aí, ok. Aí, eles vão embora.
É pra já. Pedro, ô Pedro. Manda uns três dias e três noites de chuvas. Castigo pela derrota do Mengão.
Ei, ei. Também num exagera, pô. Nada disso, Pedrão. Vinte minutos tá bom, ok?
E realmente aconteceu. O Zico virou titular e em dez anos viramos o jogo. Ganhamos tudo. Basta dizer que o Botafogo tinha 32 vitórias a mais que nós. E agora...
Agora temos a hegemonia carioca em tudo. Vitórias e mais títulos que todos. Como não se lembrar do tri de 2001? E principalmente, como não curtir o pentatri em cima do Botafogo? Três anos seguidos e, em todos eles, foram vices. Logo em cima deles. Obrigado "Cabeludo".
Isso não tem preço.