E lá se foi mais um da minha geração...
E lá se foi mais um da minha geração...
E nosso Carlinhos foi embora. Viajou pra nunca mais voltar. Tenho odio da morte. O ser humano é perfeito demais pra não vencer essa filha da puta que leva as pessoas que tanto amamos.
Nem éramos amigos diletos, nem éramos. A gente se conhecia da Gávea. Antigamente nossa sede era a extensão da nossa casa. Vivi anos e anos ali quase diariamente.
O jogador Carlinhos era elegante com a bola. Tratava ela como se deve tratar uma “dama”. tanto assim que seu apelido era Violino.
Tenho duas passagens marcantes com ele. A primeira quando entregou a chuteira pro Zico. Deu no que deu.
A segunda é triste e vou contar. A gente brigou feio em 1987 e nunca mais nos falamos.
Semifinal do brasileiro. Flamengo x Frangas Mineiras lá em Belzonte. Ganhamos 3x2. Primeiro tempo só deu a gente. Fizemos 2x0 e podíamos ter feito 4. O Bebeto perdeu dois gols por puro preciosismo. O Zinho outro. Eles empataram e o jogo ficou feio inté a arrancada do Renato Gayucho no 3x2.
Pois bem. O Zico foi substituído antes do gol e saiu cuspindo maribondos xigando geral por não ter matado o jogo. É só vê os melhores momentos e a entrevista dele
Ganhamos, beleza, todo mundo feliz e tal.
Partida final lá em Porto Alegre. Mengão x Internacional. Nakela época eu fazia questão de viajar com o grupo, ficar no mesmo hotel e tal. Tanto assim que o próprio Ayer Andrade, funcionário do Flamengo quando fazia a reserva do grupo, reservava a minha, me avisava , eu ia na companhia aérea e comprava.
Geral dentro do avião indo pra POA. Jogadores, dirigentes, imprensa e alguns torcedores privilegiados (todos pagando, claro, sem papo di gratis).
Pois bem, maior festa, nós tínhamos um timaço, bate papo geral e de repente um jornalista, nem lembro se foi o Kleber, ou o Maria ou o Ronaldo falou:
- Moraes, tu quase morreu depois do empate do Galo né?
- Respondi: tudo por culpa desse viadinho aí que rebolou que nem uma dama (apontei proBebeto). Geral caiu na gargalhada.
- Eu, que fiz?
- Podia ter matado o jogo sua bosta...
Geral riu e só o Carlinhos me olhou com cara feia.
Jogamos, empatamos, voltamos pro Rio e na segunda-feira fui pra Gávea nadar, bater papo e encontrei o Carlinhos ali perto do Bar (onde tem o busto dele).
Me deu um esporro. Discutimos feio, tudo porque eu tinha chamado o Bebeto de viadinho. Ele protegia os jogadores como ninguém.
O bixo pegou mesmo. Nunca mais nos falamos.
Deixei de frequentar a Gávea em 2011. Nunca mais vi ele.
Três semanas atrás li uma matéria sobre ele no GE. Velinho, abatido e tal e pensei.
Negão, vai na Gávea e fala com ele cara. Pede desculpas, dá uma moral porque se ele morrer tu vai ficar com a consciência pesada.
Nem fui... Num deu outra...
Hoje li a noticia e fiquei malzão. Poxa, custava ir lá... A gente só dá valor as coisas depois que perde...
Nada não. Ele se foi, num tem jeito, mas fica a saudade. O carinho. A certeza de que ídolos não se compram. Ídolos são naturais. Ídolos não se acham na esquina. Ídolos se fazem.
Ganhou títulos com o Mengão. Como jogador e como técnico. Vestiu a camisa como sua segunda pele. Demonstrou orgulho em vestir nosso Manto e que honrou até sua morte.
Fica com Deus irmão. De onde tiveres ajuda nosso Flamengo. Ele também foi a razão da tua vida.
Que a família seja consolada pelo carinho e gratidão de quem deu e recebeu todo o carinho do mundo.
Fica em paz.
Te amo.
Beijão
Valeu
Moraes
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